História da Federação

A institucionalização do Karate em Portugal divide-se em 4 períodos que se identificam da seguinte forma:

Período UBU (1963 a1972)

Período que veio a influenciar a história do Karate e que marca o arranque institucional através da Academia de Judo, propriedade de António Corrêa Pereira, no 3º andar do nº 140, da Rua de S. Paulo, em Lisboa, passando mais tarde a chamar-se Academia de Budo.

A história do Karate em Portugal está ligada à génese do Judo nacional que se desenvolve esporadicamente desde o início do século XX, passando pelo ensino e demonstrações de combate, em Lisboa e no Porto.

Em meados de 1958, viveram-se experiências de introdução de “técnicas” de Karate no treino de Judo, que apareceram vinculadas ao nome de Gilbert Briskine, 4º dan de Judo, que resolveu formar uma classe de Karate, em 1958, no Porto, mas por infortúnio dum desastre de automóvel deixou o ensino das mesmas técnicas.

Hiroo Mochizuki, na sua biografia, refere a vinda a Portugal para ensinar Karate Shotokan em Beja, no ano 1959.

A 17 de novembro do mesmo ano, por despacho ministerial, houve a distinção do Judo em “Judo marcial” e “Judo desportivo”, determinando-se que o primeiro fica subordinado ao Ministério da Defesa Nacional e o segundo ao Ministério da Educação Nacional. Institucionalizou-se, assim, a prática da mesma modalidade em dois contextos: o contexto “marcial” distinto do contexto dito “desportivo”.

A partir daí, a Federação Portuguesa de Judo (fundada a 28 de outubro de 1959) representa o Judo Desportivo e, a 6 de fevereiro de 1960, aprovado por despacho de Sua Excelência o Ministro do Interior para a prática do “Judo marcial”, formou-se a UBU (União Portuguesa de Budo), que tinha como objetivo “patrocinar” o culto do Budo, representante desta prática perante o Estado, pelo seu estatuto, onde se ligaria a Academia de Budo.

O início do treino institucionalizado nesta Academia, nasce através da Direcção de Pires Martins, em 1963, primeiro cinto negro no Karate em Portugal.

Período CDAM (1972 a 1987)

Neste período dá-se a criação da CDAM (Comissão Diretiva de Artes Marciais), a quem incumbe superintender nas atividades respeitantes ao exercício das mesmas artes.

Assume o nível de controlo até então assegurado pela UBU e instala-se uma visão conceptual que, em vez de surgir uma federação dos diferentes clubes e associações da modalidade, opta-se pela tutela de uma entidade reguladora, com perfil fiscalizador e com uma conceção assumida, onde o Karate e as restantes artes marciais não são atividades semelhantes ao Desporto do ponto de vista da sua organização.

A coexistência de dois organismos públicos de apoio e controlo das artes marciais e desportos de combate tornava-se muito controversa: a DGD (Direcção Geral dos Desportos) preocupada com todo o desporto nacional; e a CDAM que elogiava características específicas às artes marciais, não defendendo claramente a sua integração no Desporto.

Em 1987 a CDAM é oficialmente extinta.

Período FPK e FPKDA (1985 a 1992)

Este período começa um pouco antes da extinção da CDAM, com a criação de duas federações: a FPK (Federação Portuguesa de Karate) em 1985; e a FPKDA (Federação Portuguesa de Karate-do e Disciplinas Associadas), em 1986.

A tendência para o desenvolvimento de uma organização específica do Karate começa a ser uma preocupação de todos os líderes das associações de karate e o projeto federativo da modalidade passa a ser um trabalho concreto.

O conflito de conceções entre os grupos leva à criação da FPK por um grupo de associações que pretenderam demarcar-se das próprias imposições da CDAM.

A 2 de março de 1985 é fundada a FPK; a 27 de março de 1985 realiza-se uma escritura lavrada por 3 Associações e a 8 de maio do mesmo ano é publicada no D.R. nº 105 III Série.

A 24 de janeiro de 1986, é fundada a FPKDA com escritura lavrada por 11 Associações e publicada no D.R. nº 31 II Série, a 6 de fevereiro de 1986. 

Assiste-se assim, a um desafio de representatividade em que a FPK procura o apoio da DGD para contrabalançar o apoio da CDAM, em extinção, à FPKDA. No entanto, a lógica deste período era a de tentar chegar primeiro, fazer primeiro.

Período FNKP (1992 – à presente data)

Em 1990, o acordo entre a FPK e a FPKDA faz com que se iniciem participações conjuntas. Após a unificação federativa, surge assim a FNK-P (Federação Nacional de Karate – Portugal), período que agora se vive.

Por detrás deste acordo e desta visão, estão entre outros,  Raul Cerveira sócio numero 1 e Rómulo Machado sócio numero 2 da FNK-P e com a primeira Assembleia Geral da FNK-P, a 15 de fevereiro de 1992, onde se aprovaram os novos estatutos e se elegem os respetivos órgãos, afirmou-se como marco institucional que tornou desnecessária a comissão FPK-FPKDA.

O envolvimento do Estado teve influência na disputa política que passou a ser interna, no mesmo movimento federativo.

O Karate nacional tem procurado desenvolver-se numa nova realidade, com responsabilidade pública na promoção da sua modalidade, sendo então atribuído à FNK-P a UPD (Estatuto de Utilidade Pública Desportiva), em 1995, o que significa o reconhecimento do Estado Português, na altura através do INDESP, mas hoje pelo IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude).

Foi constituída pessoa coletiva com o número de contribuinte 503 027 120, titular da UPD, concedido por despacho do primeiro ministro a 21 de dezembro de 1995. Está constante da declaração da Presidência do Conselho de Ministros de 5 de janeiro de 1996, publicado no Diário da República nº15, IIª série, de 18 de janeiro de 1996 e do Estatuto de Utilidade Pública concedido pelo despacho nº 55/95.

O estatuto de UPD foi renovado no ano 2013 e tornado público pelo aviso 1578/2013 de 1 de fevereiro de 2013 ao abrigo do nº 2 do artigo 16 do decreto lei nº 348-B/2008, produzindo efeito reportado a 1 de janeiro de 2013.

Desde 1992, que a FNK-P passa a poder pensar na formação de quadros com base na legislação comum a todo o sistema desportivo, sem qualquer restrição específica regulamentada em Diário da República, o que marca, desde logo, o consumar institucional do corte com a conceção legal anterior. Assim, a atual federação, passa a poder organizar eventos competitivos a nível nacional e regional, assim como a trabalhar na preparação de uma única seleção de representação nacional nos quadros da Federação Europeia e da Federação Mundial.

 

Bibliografia

Academia de Budo Elucidário de Judo; Revista Bushido nº 3, Março de 1989, pp.39-42.; Federação Portuguesa Judo Arquivo e Historia; Raul Cerveira como testemunho e Livro do próprio, Karate-Do; Abel Figueiredo nos diversos documentos produzidos;  Jose Patrão nos diversos documentos produzidos; Vitor Rosa na tese de doutoramento em sociologia.